terça-feira, 7 de outubro de 2014

Irene no céu / Manuel Bandeira






Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.


Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Oceano / Rafael Nolli



Tudo é efêmero diante do mar
navegadores, sereias, tritões
o encanto dos celacantos
a cor dos corais        

Nada dura diante de suas dunas
grandes impérios, conquistadores
A memória não sabe nadar
sofre de enjoo, é presa fácil
em tempo de tempestade

Só pra nos lembrar
(que tudo é efêmero diante do mar)
o mar  o mar o mar
sobe as encostas
encharcando as nuvens


alterando a geografia do ar

Homenagem aos homens que agem / Marioswald




Tarsila não pinta mais
Com verde Paris
Pinta com Verde
Cataguazes

Os Andrades
Não escrevem mais
Com terra roxa
Não!
Escrevem
Com tinta Verde
Cataguazes

Brecheret
Não esculpe mais
Com plastilina
Modela o Brasil
Com barro Verde
Cataguazes

Villa Lobos
Não compõe mais
Com dissonancias
De estravinsqui
Nunca!
Ele é a mina Verde
Cataguazes

Todos nós
Somos rapazes
Muito capazes
De ir ver de
Forde Verde
Os azes
De Cataguazes


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Denise Levertov / Living




The fire in leaf and grass
so green it seems
each summer the last summer.
_
The wind blowing, the leaves
shivering in the sun,
each day the last day.
_
A red salamander
so cold and so
easy to catch, dreamily
_
moves his delicate feet
and long tail. I hold
my hand open for him to go.
_
Each minute the last minute.

__________________________

Vivendo / Denise Levertov

A chama em folha e grama
tão verde parece
cada verão o ultimo verão.
_
O vento soprando, as folhas
estremecendo ao sol,
cada dia o último dia.
_
Uma salamandra vermelha
tão fria e tão
fácil de pegar, distraidamente
_
move suas patinhas delicadas
e sua cauda comprida. Deixei
a mão aberta para ela partir.
_
Cada minuto o último minuto.


Traduzido por Wagner Miranda


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Max Martins / A varanda (A Laís)





O café que tinge a xícara
O leite que derramas na xícara
O riso que tens de cabelos molhados.

A água fria que espanta a noite
E a angústia das noites
O sol que bate na verde janela
E o vento que sacode a cortina bordada.

O jornal que noticia desastres
Na branca varanda
Onde o relógio domina.

A chaminé que respira
Cr$1.000,00 em flor
O leite o beijo a rosa
A rosa que batiza a toalha.